domingo, 10 de agosto de 2008

Dinheiro não agüenta desaforo de parente

Esta frase não é nossa. É de Renato Bernhoeft, consultor e maior especialista brasileiro em empresas familiares para a Isto é Dinheiro de outubro de 2007. Humildemente concordamos e abrimos esse papo com ela.
Se cavarmos um pouquinho a história, alcançaremos à constatação de que boa parte das empresas nasceu familiar e fruto do trabalho de um ou mais visionários que, focados numa idéia ou simplesmente motivados pelo instinto de sobrevivência, plantavam, colhiam, manufaturavam, empreendiam. E constataremos também que os negócios familiares ao longo dos tempos, em todos os lugares e dos mais variados portes têm sido assombrados por dois fantasmas: a sucessão e o crescimento.
Costuma ser assim. Enquanto reina o fundador, tudo tende a caminhar bem, obrigado. Mas, quando a coroa deve ser passada adiante não é raro na empresa familiar faltar um herdeiro preparado ou mesmo motivado para assumi-la. Neste caso, a solução mais indicada, com vistas a garantir a perenidade do negócio, é colocar a gestão da empresa nas mãos de executivos preparados, com formação e experiência condizentes com as demandas da companhia e com sua cultura. Simples? Seria se a gestão da empresa familiar seguisse a mesma lógica do resto do mundo corporativo. No entanto, interesses e vaidades tendem a pesar nas decisões sobre o futuro destas organizações. Entre os herdeiros, há o medo da perda do controle sobre o negócio, da perda de algum quinhão da herança. Há relações boas e ruins que muito facilmente ultrapassam as fronteiras pessoais e contaminam as decisões tomadas no âmbito da empresa. Ponto comum entre aquelas que passam com sucesso pelo processo de substituição de seu fundador: o cuidado que este teve em dar forma às bases de sua sucessão, buscando preparar o herdeiro para tal e/ou, ainda no comando, passar o bastão a profissionais preparados.
Outro obstáculo comum à perenidade do negócio familiar é a resistência de alguns dos seus criadores a dividir a gestão da empresa com profissionais no lugar dos parentes. Enquanto o negócio é pequeno ou está em situação competitiva confortável, a conformação de um quadro de funcionários mais parecido com uma árvore genealógica do que com um organograma não costuma gerar grandes problemas. Já quando a empresa se encontra em processo de crescimento ou em situação de grande competitividade, a camaradagem familiar já não dá conta do recado. Para sobreviver e ter sucesso, quase como regra é necessário contar com o expertise e o desempenho de profissionais com formação e experiências em suas áreas de atuação.
Pesquisas demonstram que de cada 100 fortunas brasileiras só 18 são herdadas. E indicam que erros na preparação dos herdeiros e/ou a falta de profissionalização dos gestores liquidam até 67% das companhias já na segunda geração. Em contrapartida, constatamos que atualmente no Brasil grupos empresariais familiares bem regidos seguem com ações valorizadas bem acima da média das dos demais grupos privados. A fórmula deste sucesso parece estar na união entre cultura organizacional marcante e própria - conseqüência do empreendedorismo e do perfil de atuação dos fundadores - e a gestão profissional do negócio, fundamentada em práticas modernas de administração.
Hoje é preciso mais do que coroa para ser e manter-se rei.
Texto publicado na Revista Alto Estilo São Carlos, Edição 5, Julho/Agosto2008.

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